Física, Química e Biologia. Por que essas três palavras trazem arrepios em muitos jovens e adultos? Elas são quase sempre consideradas matérias “dificílimas” ou associadas com aquela expressão preconceituosa de que “coisa de doido”. Talvez esse trauma tenha origem em um modelo de ensino tradicional que não mostra a aplicabilidade da ciência no nosso dia a dia. E no dia 11 de agosto, quando se comemora o Dia do Estudante no Brasil, é relevante pensarmos como a ciência pode ser desmistificada por meio de ações da extensão universitária em que alunos atuam em conjunto com a comunidade.
Podemos considerar um Ensino Médio “tradicional” aquele no qual o professor é o detentor do conhecimento e passa a matéria por meio de fórmulas decoradas, de memorização da tabela periódica ou que se orgulha em saber, na ponta da língua, o nome de todos os aminoácidos. Porém, sem apresentar a contextualização desse conhecimento científico tão rico. Por experiência própria, nunca precisei decorar o nome de todos os átomos da tabela periódica para finalizar meus pós-docs.
Ainda como acadêmico da Ânima Educação, tive contato com diversas ações que procuraram estimular o interesse de jovens do Ensino Fundamental e Médio pela ciência. Programas extensionistas como “Viver Ciências” e “Jovem Cientista” abrigaram alunos de escolas públicas nos laboratórios das faculdades. Nesse ambiente, onde vários jovens nunca tiveram oportunidade de pisar, foram desenvolvidas oficinas lúdicas a fim de estimular a curiosidade em ciências.
Essas oficinas tiveram temas como alimentação saudável, planejamento de compras, composição e estrutura do solo, ciclo da água, anatomia, Leis de Newton, energia mecânica, solar e eólica, dentre outras. Todas levando estes jovens a colocar a “mão na massa” por meio de experimentos que, se fossem feitos somente com a explanação teórica, seriam de difícil compreensão. Além disso, ao longo desses projetos, os estudantes foram estimulados a participarem de feiras de ciências, exposições, congressos, seminários acadêmicos. Nesses eventos, os alunos apresentaram os trabalhos práticos desenvolvidos, informando os benefícios e impactos que tais conhecimentos trariam para a comunidade – relação que enriquece ainda mais o processo de conhecimento.
Apesar de não ser um reforço escolar, estudantes, pais e mestres apontaram em entrevistas posteriores e questionários, que a participação nessas oficinas contribuiu para o desenvolvimento dos discentes envolvidos, ajudando a compreender melhor as disciplinas escolares e despertando o interesse pela aplicação da ciência ao seu cotidiano. Afinal, não dá para gostar daquilo que não compreendemos. As famílias também deram retorno positivo sobre a participação dessas crianças, apontando não somente mudanças de comportamento, como também, a aquisição de um novo olhar para a realidade e sua implicação enquanto cidadãos e futuros profissionais.
Ao final do programa é realizada uma cerimônia de encerramento com a presença dos responsáveis e dos educadores envolvidos. Nela, cada estudante recebe um certificado de conclusão, como um rito de uma passagem que desmistifica o limiar assustador da ciência. Além do certificado e do amadurecimento apresentado pelos estudantes, os mesmos levam do programa a curiosidade e a paixão pela ciência, que continuarão a florescer ao longo de suas vidas.
Quando as faculdades e a comunidade dialogam por meio da ciência tudo muda e estas instituições colocam em prática a sua função social. A ciência não é um território “dificílimo”, mas sim, um cenário livre para construir a evolução do ser humano individualmente e, por consequência, inevitável e muito benéfica para a comunidade que o abriga.
Comemorado oficialmente desde 1927, o Dia do Estudante surgiu um século antes, em 1827, quando Dom Pedro I inaugurou os dois primeiros cursos superiores brasileiros, nas áreas de Ciências Jurídicas e Ciências Sociais. Os cursos foram ministrados em Pernambuco e em São Paulo.
Sobre o autor
* Vinícius Costa é químico, pesquisador e diretor do Centro Universitário IBMR, integrante do Ecossistema Ânima no Rio de Janeiro.
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