Nascida e criada na periferia de Niterói, a vereadora Benny Briolly é uma ativista dos direitos humanos e da liberdade religiosa. Foi a primeira parlamentar travesti no Rio de Janeiro e a vereadora mulher mais votada para Câmara Municipal de Niterói no pleito de 2020. Benny, trava mais uma batalha por dia desde que nasceu. Hoje, ela tem um lindo motivo para comemorar. Na noite da próxima terça 16, irá lançar um livro de memórias revelando tudo.
“Esperança, coragem e amor pela humanidade”. Com base nesses valores fundamentais, Benny Briolly – mulher negra, transgênero, nascida na periferia e conectada com as tradições da Umbanda – encara diariamente sua imagem no espelho, se pintando para enfrentar os desafios da vida. Vibrante, ela personifica uma resistência diária, lutando para afirmar e garantir a existência de seu corpo em um mundo que normaliza a rejeição ao que escapa ao padrão e hostiliza a diferença. Benny é um ser humano que traz no corpo e na mente as vidas até aqui vividas.
Sua trajetória de luta e afirmação está reunida em “Mulher da vida”, livro de memórias, com prefácio da deputada federal Talíria Petrone, que chega às livrarias pela editora Oficina Raquel. O lançamento será no dia 16 de abril, a partir das 18h, na Livraria da Travessa, em Niterói. O evento de lançamento contará com uma mesa de debate entre a autora e as convidadas Dandara Suburbana, produtora de conteúdo e escritora, que assina a orelha do livro, Luisa Marzullo, jornalista que acompanha pautas de violência política de gênero no jornal O Globo, e Sara Wagner York pesquisadora, pedagoga, letróloga e primeira pessoa trans a ancorar no jornalismo televisivo brasileiro.
“Escrevi esse livro para passar uma mensagem de humanidade. Um corpo como o meu é um corpo que pode e deve ter os mesmos direitos como o de qualquer outra pessoa. Quero provocar uma reflexão sobre o que é existir como uma mulher trans no Brasil”, reflete a autora, lembrando que a maioria dos corpos como o dela ainda vivem à margem da sociedade no país que mais mata, assassina mulheres, travestis e transexuais.
Dentro desse corte social, Benny é um exemplo de superação. Uma mulher da vida, um corpo nascido de um parto na violência obstétrica, e que já integrou as estatísticas do trabalho infantil. Um corpo que encontrou na política o seu refúgio, um lugar de desabafo, e onde pode mobilizar outras pessoas. “Quero movimentar as estruturas da sociedade que perpetua a necropolítica, de marginalização, de violência do Estado, de precarização social. Um dia me olhei no espelho e conclui: sou uma mulher da vida.”, esclarece.
Em suas memórias, Benny revisita momentos preciosos de sua trajetória e relembra as pessoas fundamentais em cada fase. Consciente da sua realidade e daqueles à sua volta, a autora reitera a importância da educação como chave para a libertação e a autoafirmação. As amorosas relações com sua avó, sua mãe e sua prima e o reencontro com sua espiritualidade ao conhecer a Umbanda são temas também explorados na obra, na qual também compartilha o seu amor pela cultura brasileira, transitando entre o cinema, a música e o Carnaval.
Nestas memórias, ela reafirma a identificação com a militância progressista, recorda a proximidade com Marielle Franco, e levanta a bandeira, incansável, da luta pela justiça social e pela liberdade religiosa. Benny chegou a ter que se ausentar do país, após receber uma série de graves ameaças de morte. Hoje está inserida no programa de proteção do Estado, ao mesmo tempo, em que se destaca como uma das parlamentares mais atuantes de seu município.
“A minha luta sempre foi pela vida. Um corpo trans, negro, sempre luta pela vida. O resto é consequência disso. É o que mais me orgulha na minha trajetória. E quanto aos que me atacam, um dia eu hei de conseguir acessar o espaço dessas pessoas para fazê-las compreenderem que o real sentido da vida é o amor. E o amor é respeito, é esperança, é solidariedade”, finaliza Benny.